domingo, 16 de fevereiro de 2014

Lars Von Trier


Um filme violento. Sabíamos desde o princípio. E não é pelo sexo ou pelo abuso dele.
É uma violência mais do que tudo psicológica, daquela mulher de quem queremos ter pena e depois não.
Encostados à parede, quando terminou a primeira parte, achámos que não mexia tanto como 'Shame', de Steve McQueen, para nós um dos filmes de 2012 e, afinal, um filme que trata o mesmo tema (recuso problema, porque embora a tentação empurre, realmente não sei), este na perspectiva do homem. Achámos que a história ficava assim como que aquém. Um espécie de aborrecimento rezado ou confessado por essa mulher lúcida, marcada e sedenta no divã psiquiátrico de um homem virgem e assexual.
Mas depois, com a segunda parte, fecha-se o círculo e chega o sentido. Impossível por isso ver uma parte sem a outra. Para ficar a meio, vale mais não ver nenhuma.
Continuando a comparação (se é lícito) muito mais profundo que 'Shame' (que nos tinha feito submergir intensamente no interdito irrecusável e na vergonha arrependida e consciente da ressaca). Afinal, muito mais duro e penoso. Que vai à raiz do poço e é atormentadamente excessivo. E que o lado delicado, pueril e quase inocente dela só complica mais ainda. Porque a dificuldade é separarmo-nos das lentes da nossa moral.
'Ninfomaníaca' é surpreendente porque não estávamos mesmo preparados para aquilo tudo, para a dor máxima do ser violentado, que se violenta, que já não sente prazer e que é só vício, mas também orgulho afirmativo. E não estávamos enfim preparados para o fim, embora a conclusão tenha que ser que não podia ser de outra maneira.
Um filme que perturba, que não é fácil digerir e que não se quer repetir, mas que não podíamos deixar só escrito na ementa.

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