domingo, 22 de março de 2015

Eire land

Acabo de ler no on-line da BBC que a Irlanda venceu o torneio das 6 nações em rugby. Por 6 pontos de diferença para a Inglaterra. Ah, insurrectos !

E é agora que me lembro de ti. Há 10 anos. De ver do ar só campos e campos verde trevo, quando o avião chegava.

Não foi preciso chover, nem trouxe comigo o cd dos "Pogues" a tocarem 'A Pair of Brown Eyes'.
Depois começam-me a chegar estas imagens. Alugar o carro em Cork a um homem chamado Finbar e de coisa nova, conduzir do lado esquerdo. Inverter o cérebro e distorcer hábitos instalados. Estradas e estradas. Que coisa boa !, quando nos trocam tudo à volta e ficamos como virgens a ver tudo como num espelho. E isso é viajar.
Chovia, quando chegámos. Choveu quase sempre e é por isso que és desse verde impossível.
Lembrei-me da interminável estrada até Killarney e das livrarias. Podia sempre interminar-me numa livraria !
E parar naquele pub do fim do mundo, depois de subir uma colina, andar, andar e andar, e de receber mais uma pint de Guinness que me trouxeram para a mesa de madeira «... for the way, man», enquanto escutávamos canções de velhos celtas a tocarem num rádio velho e roufenho.
Lembrei-me das setas para Tipperary e de escolher o ferry para o Burden.
De chegar a Galway, das corridas, onde um velho de bengala esperava sentado. Ou talvez descansasse apenas.
De nos encostarmos de barriga para baixo nos 'Cliffs of Moher', esses penhascos gigantescos que se esmagam contra o mar, e sentir a enorme vertigem de abismo que só experimenta quem tem coragem. Que tu esbanjavas, Cristina. Porque já levavas a Matilde na barriga.
Lembrei-me de Belfast, de entrar numa rua em contramão, e dos murais, do Bobby Sands e da Loyalist Zone. De saber que ainda há pouco tinha sido chacina. E de como ainda continuou depois de nós. E do fumo nos pubs, que aqui a lei nova não entrava, porque estávamos no UK. De repente as bandeiras mudam de cor e os táxis e os autocarros são de Londres. Fico logo contra ti mas porque sonho com a independência. E porque adoro os irlandeses.
Ainda enterrar-me no trânsito da autoestrada que vai para Dublin por causa da final de futebol gaélico que se jogava no domingo.
De andar contigo nas ruas da capital, de ler sobre o Easter Rising e de procurarmos velhas fotografias do Michael Collins a comandar o IRA.
De comer um bife num pub de Kilkenny e assistir aos malvados franceses porem-te para fora do Mundial de 2006 com uma obra de arte chamada Thierry Henry. E este nem foi com ajuda da mão.
No dia seguinte o Irish Independent ainda chorava a tristeza da véspera, como eu chorei a lotação do estádio e de não ter conseguido bilhetes para o jogo.
  

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